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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Imagens parecidas


Estou postando hoje um texto de Ivan Almeida, que foi retirado do site f-508, que me foi enviado pelo Hugo Berti, e tem me deixado meio encafifada. :)
O texto se refere à fotografia, mas acho que é perfeitamente aplicável a outros meios artísticos e criativos.

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TEXTO DE IVAN DE ALMEIDA- retirado do site f- 508

Duas mulheres foram a uma festa. Quando uma delas chegou, encontrou a outra usando o mesmo vestido. E o vestido era bonito, vistoso, não dava para disfarçar... todos repararam
.
Uma copiou a outra?

Não. Só, por acaso, compraram na mesma loja do bairro onde moravam.
Um fotógrafo posta uma imagem em um site de fotografia. Outro posta uma foto quase idêntica. Variações derivadas de 1/3 de ponto de fotometria, talvez, pequenas diferenças de enquadramento, e um a fez com uma DSLR, outro com uma superzoom (isso aconteceu de verdade hoje). Um alega que a fez antes e o outro a teria visto no LCD da câmera, mas o Exif do outro informa horário 4 minutos antes...

No debate, inevitável, foi mencionado que ambos fizeram o mesmo passeio fotográfico, e o enquadramento da foto em ambos os casos apenas descrevia o objeto. De frente, plano, chapado. Abordagem direta. Um copiou o outro?

Ou trata-se de um caso no quais ambos entregaram a responsabilidade de sua fotografia ao objeto fotogênico? Ou seja, compraram os mesmos vestidos porque a loja os fez iguais...
Uma fotógrafa, amiga, mostrou certa vez uma foto. No site em que mostrou, foi elogiada, e coisa e tal. Disse a ela que sua foto era demasiadamente dependente do objeto. O objeto interessante criava interesse para a foto. Ela reclamou de minha observação, mas cerca de uma semana depois veio me contar que outra fotógrafa, no mesmo passeio fotográfico realizara uma foto praticamente idêntica. Inicialmente aborreceu-se com a outra, mas depois compreendeu terem ambas sucumbidas ao objeto, e, estando todo interesse concentrado nele, qualquer um faria a mesma foto.

São coisas que acontecem. E acontecem porque o fotógrafo entrega ao objeto interessante a sua fotografia. Muitos fotógrafos agem como caçadores de objetos interessantes, como se isso fosse fotografar, e as fotos resultantes dessa caçada pouco mais contém que próprio objeto. Quem fez a foto? O objeto? E no caso das duas mulheres, quem fez o vestido? O que temos nesses casos são fotografias com escassa construção fotográfica, temos "atos de registro".

Porque parece haver na fotografia uma polaridade. Um dos pólos é o objeto, o referente. O outro, o ato fotográfico. Nesses casos, temos um referente ativo em demasia, e um ato fotográfico apassivado. Muitas fotografias são assim. Não notamos nelas uma narrativa consistente, um ponto de vista, algo que só esteja na fotografia, não esteja no objeto.  O que há nessas fotografias é o mesmo que havia lá fora da câmera escura.

Um fato pode ser contado de muitas maneiras, e todos nós conhecemos bons contadores de casos. O mesmo caso pode ser maçante ou interessante, dependendo de quem conta. Assim também na fotografia. É na narrativa que a fotografia ganha autonomia e torna-se diferente de uma pura reprodução de algo.
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Eu me pergunto: Se o objeto fosse um ser humano esse discurso seria o mesmo?

Vou continuar refletindo a respeito, vou colocando minhas dúvidas e conclusões nos comentários. :)

3 comentários:

siusi disse...

pois é, a assinatura pessoal ( vc sabe o estilo, ou a marca do olhar de cada um) dos fotografos resolveria essa questão.vc acha q ja chegou nesse ponto?( eu nem em desenho tenho assinatura )

Re Lepage disse...

Siu, nem se sei o que é isso direito... rsrsrs
Acho que é sempre mais dificil com a fotografia por não envolver um gestual, isso é não existe o traço pessoal do artista, o movimento do pincel. Temo que se acontecer de minhas fotos ficarem super reconhecíveis (quanto a autoria) é porque parei de criar...

Re Lepage disse...

Hmmm quinta passada a Simonetta, em sua aula de "fotografia e arte" no MAM, disse que a fotografia, em sua maioria absoluta, não é arte. Mas apenas registro de algo existente. Então essa semana estive me perguntando, seguindo esse critério, Lachapelle é mais arte que Cartier-Bresson?
Se esse critério for adotado aqui nesse texto a discussão, em si, fica sem sentido uma vez que em qualquer caso a foto é um registro.
Miha cabeça fervilha, rsrsrs